segunda-feira, 27 de junho de 2011

Munida com meus óculos escuros tamanho gigante,

minha roupa pós-ressaca (calças folgadonas e moletom da Gap) e dois comprimidos pra dor de cabeça, eu andava pelo Pátio Savassi tentando evitar cada reflexo que tremulava nas vitrines, me perguntando por que afinal eu havia concordado em ir almoçar com o Dan.
                Eu nem estava com tanta fome assim – tudo bem eu estava com um pouco de fome.
                Tá bom, tá bom, minha barriga roncava tão alto que algumas pessoas olhavam para mim assustadas. Satisfeitos agora?
                Mas enfim. Enquanto eu fazia um enorme esforço para não dar meia volta e ir para casa – devo admitir que só não o fiz por causa do almoço (eu disse que como muito quando tô de ressaca) – fui pensando na melhor maneira que eu poderia contar tudo para o Dan sem ele tentar me internar ou simplesmente me ignorar completamente.
                Conhecendo ele, assim que acabasse de ouvir minha história ele soltaria uma sonora gargalhada e faria algum comentário maldoso a respeito de Lena e eu termos esquecido o dia dos namorados, e do feitiço vir de uma mulher chamada Madame Dite.
                Aliás, conhecendo meu amigo, ele daria a risada e faria o comentário maldoso no segundo em que visse o que eu estava vestindo – o que não facilitaria em nada a tarefa de contar os eventos de ontem para ele.
                Ah, vocês estão se perguntando quem afinal é esse tal de Dan? Ok, deixa eu fazer um parêntesis aqui.
                Vamos ver... tá bom, imaginem um gringo, com olhos verdes escuros, a pele lisa como de um bebê e um cabelo perfeito, que não é nem loiro nem castanho. Imaginaram? Ok, agora pensem nesse mesmo cara, só que sendo um modelo que já fez campanhas para tipo, Calvin Klein – e de cueca –, que já ganhou um milhão de troféus em tipo um milhão de esportes, e que ainda por cima nunca tirou uma nota abaixo da média nenhuma vez na vida.
                Ah, e imaginem ele fazendo a ponta como vampiro num filme nada famoso e nada idolatrado por milhares de garotinhas histéricas em todo mundo, e que por acaso se chama Crepúsculo...
                Imaginaram? Ótimo.
                Bem, esse é Daniel Emmerson, ou Em, como todo mundo o chama, ou Dan, como só eu o chamo. Ele é, bem, meu melhor amigo, ou tanto quanto um cara pode ser melhor amigo de uma garota. Tudo bem que o Dan não é exatamente alguém que podemos chamar de “cara” – apesar de ser como um na maioria das coisas.
                Por quê? Bem... digamos que atualmente ele anda tendo um relacionamento bem intenso com um certo cara... e que com relacionamento eu queira dizer namoro. E que com cara eu queira falar sobre o cantor/ídolo teen absoluto que anda na cabeça de ainda mais milhares de garotinhas do mundo inteiro e que apenas dois meses atrás revelou gostar de meninos, sendo uma das fofocas mais bombásticas de anos.
                Ou resumindo: Dan é gay. Ou melhor, ele é bi. Mas como anda namorando mais homens do que mulheres ultimamente, vamos dizer que ele é gay, para simplificar.
                Ainda assim é esquisito o chamar de gay, porque ele é tão... homem na maioria das coisas. Quer dizer, o quarto dele parece um chiqueiro, ele cospe no chão e arrota bem na nossa cara... ele odeia qualquer filme de romance é viciado em futebol e fala palavrão a cada dois segundos – ah, eu irei dar uma cortada quando ele falar uns muito cabeludos, tá bom? E enfim. Ele não é aquele estereótipo que as pessoas fazem de meninos gays, entende?
                O que me faz pensar sempre em como tenho orgulho dele. Se Dan é alguma coisa, é um exemplo sobre como não podemos julgar as pessoas apenas por parte de algo que elas são.
                Foi com esse pensamento tão doce a respeito de Dan que eu o avistei, sentado num dos restaurantes do Pátio, usando um óculos aviador e parecendo acabar de sair de uma campainha de roupas carésimas – ah, e ele só usava uma blusa branca e uma calça jeans.
                No momento em que me viu ele disse:
                - Ok, que tipo de roupa é essa? – e soltou uma risada malévola.
                Sabia.

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