domingo, 12 de junho de 2011

Começou ontem, com um telefonema

Uma conhecida voz, engasgada e melequenta, acompanhada por sonoras fungadas no nariz chegou da outra linha. Levantei da cama onde estava deitada e torci para que não fosse Lena, para que fosse qualquer pessoa menos a minha amiga.
                - Nina? É... é... a Lena.
                Droga. Comecei a andar pelo meu quarto e catei uma calça jeans que estava no chão, vestindo ela e uma blusa qualquer em seguida.
- Oi amiga. O que houve? – perguntei, enquanto calçava minhas sandálias.
- Você não vai acreditar...
Estava penteando o cabelo quando comecei a desejar, de todo o meu coração, que minha amiga não dissesse as quatro palavrinhas que eu sabia que ela estava prestes a dizer... que eu estivesse errada e estava trocando de roupa por nada...
                - O Júlio terminou comigo!!!
                Parei no meio do quarto e suspirei profundamente. Claro que tinha terminado. De novo.
                Enquanto pegava minha bolsa, disse: - Te encontro no Z em quinze minutos. – e desliguei.

Quinze minutos depois, no Café do Z:
                - Você tem certeza que terminaram?
                - Co-como assim se eu tenho certeza?? É claro que eu tenho certeza Nina!!
                - Eu sei, eu sei... mas às vezes não é nada tão definitivo assim.
                - Não, é sim. Eu sei. Eu sinto.
                - Ok, quais foram as exatas palavras dele?
                Lena fungou mais um pouco e pegou o celular, abrindo nas mensagens e entregando para mim. Estava escrito: Temos que terminar tudo, pra sempre dessa vez. Sinto muito. Beijos, pra sempre seu.
                Ai!
                - Nossa que idiota. Beba mais do seu chocolate – o Café do Z fazia o melhor chocolate quente de Belo Horizonte, o único motivo pelo qual eu e Lena íamos ali, sempre que tínhamos qualquer problema amoroso.
                O que sim, significa que todos os garçons sabem nossos nomes, e que temos nossa própria conta.
                - Eu ainda não acredito nisso tudo. – ela disse, depois de beber por um tempo. – Quer dizer, eu nem sei porque exatamente terminamos.
                - Quer dizer que vocês não brigaram nem nada assim?
                - Não mesmo. Nós estávamos até bem, tudo bem que ontem tivemos uma pequena discussão a respeito daquela mania idiota dele de não me responder nada direito no MSN, mas fora isso... Ah não, você acha que ele terminou comigo por causa disso???
                - Ele terminou com você porque é um idiota. Quer dizer que tipo de mensagem é essa: “temos que terminar tudo, pra sempre” e depois, “beijos, pra sempre seu”. Como ele vai ser pra sempre seu se vocês vão terminar pra sempre? Tipo será que dá pra ser mais canalha do que isso?
                - Ah, dá. Amiga, ele terminou comigo por mensagem.
                - Ai, é mesmo. Tome, mais chocolate pra você.
                Entreguei meu chocolate quente pra ela – porque o copo de Lena já tinha acabado – e fiquei pensando se eles realmente haviam terminado tudo. Por mais horrível que aquela mensagem parecesse, eu não podia deixar de me sentir meio cética, considerando que aquela era a sexta vez que eles, abre aspas, terminavam tudo, fecha aspas.
                Tudo bem que nenhuma das vezes – embora todas elas tivessem sido acompanhadas pela voz mucosa de Lena – foram tão trágicas assim, o lance todo do pra sempre era bem tenso. Mas ainda assim... É difícil confiar naqueles dois quando se já pagou tantos chocolates quentes como eu paguei nesses dias.
                Mas eu preferi ficar calada. Como o manual da melhor amiga diz: quando se trata de fim de namoro, o melhor é usar os três Cs: consolar, concordar e cooperar. Ou seja, cale a boca.
                Assim, ficamos sentadas, pedindo chocolate atrás de chocolate por um bom tempo. Deixei Lena chorar, falar que amava Júlio, chorar, falar que odiava Júlio, chorar, falar que eles ainda voltariam – não pude deixar de erguer as sobrancelhas nessa hora – chorar mais, falar que não queria nem ouvir falar dele de novo.
                Então, depois de alguns minutos de mais choro, seguidos por uma bem desenvolvida fundação do clube Nós Odiamos o Júlio (pra sempre), as coisas melhoraram um pouco. Lena até conseguiu rir, uma hora.
                Por fim, passamos a falar de outras coisas. Fofocamos um pouco sobre o pessoal da escola, reclamamos do Mont Everest de dever que tínhamos para segunda, e falamos um pouquinho sobre mim.
                - Então, amiga, como vai o Léo? – Lena perguntou, com o tom de voz suspeitamente embargado.
                Olhei para ela, em dúvida. A última coisa que queria era vê-la chorando porque eu estava contando do meu relacionamento amoroso – se é que podemos chamar disso.
                - Ai, relaxa Nina. Eu estou de boa. Agora me conta.
                - Bem, estamos normais. Sei lá. Ele anda meio sumido... não sei porque.
                - Ontem vocês saíram?
                - Não, ele disse que estava ocupado com umas coisas em casa.
                - É mesmo? – Lena me olhou.
                - Não me olhe desse jeito. Tá tudo ótimo. Nós conversamos horas ontem no telefone, acho até que vamos nos encontrar hoje à noite. Ele disse que agora de tarde tinha um compro...
                Enquanto eu falava, observava a rua e as pessoas que passavam pela vitrine do Z. De repente, andando rapidamente pela calçada estava, justamente, o Léo.
                E mais uma pessoa.
                E mais uma menina.
                - Tinha um...? – disse Lena, mas eu estava chocada demais.
                Ela acompanhou meu olhar, e deu um gritinho de surpresa.
                - Amiga, aquele é o...
                - É.
                - E aquela é uma...
                - É. – engoli em seco.
                - Vamos atrás deles!
                - O quê? Não!
                - Como assim, não?! Vamos sim, claro que vamos. Seu namorado está andando por aí com uma menina.
                - Ele não é meu namorado. E ela pode ser apenas uma amiga... ou uma prima. Ou a irmã dele!
                - O Léo não tem irmã Nina. E um garoto acabou de terminar comigo via mensagem, então nem me venha com esse discurso de que ele está com uma amiga!
                Lena levantou da cadeira, e pegou a bolsa dela e a minha, me puxando para fora da lanchonete.
                - Lena, não, eu não quero ir...
                - Quer sim. Vamos logo. Zeca põe na conta! – gritou minha amiga, enquanto corríamos porta afora.

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